Hoje eu acordei com Tarsila do Amaral

Importante representante do movimento modernista no Brasil. Tarsila nasceu em Capivari, interior do Estado de São Paulo e passou a infância nas fazendas de seu pai. Estudou no Colégio Sion e depois seguiu para Barcelona. Em 1920, foi estudar em Paris, na Académie Julien e com Émile Renard. Ficou lá até junho de 1922 e soube da Semana de Arte Moderna (que aconteceu em fevereiro de 1922) através das cartas da amiga Anita Malfatti.Tarsila namorou Oswald de Andrade e formaram um seleto grupo cultural que se reunia em São Paulo com frequência.


As figuras desenhadas por Tarsila expressavam muito da sua convivência com os trabalhadores das fazendas de seu pai. As cores também estava relacionadas a um passado afetivo e marcaram todas as suas obras.

Oswald fundou o movimento antropofágico e Tarsila aderiu criando a figura da Abaporu, a figura que queria engolir, deglutir a cultura europeia e transformar em algo brasileiro. São muitos os detalhes e espaços que Tarsila permeou e construiu sua vida. Seus traços e suas cores deram refletiram o cotidiano e suas heranças. São muitos os quadros, são muitas as histórias.

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Abaporu é sempre uma das mais lembradas. Gosto também do quadro operários. Representa muito dos meus estudos, a miscigenação, a construção social do trabalho e do trabalhador. Hoje acordei com ela muito porque estava pensando no movimento antropofágico e de todas as aspirações e transformações que representa.

Hoje eu acordei com Frida Kahlo

Uma mulher a frente do seu tempo. Muitas vezes acusada de transgressora. sua paixão pela arte se confundia por sua paixão pela vida. Um ícone do surrealismo, mas principalmente um ícone do feminismo na década de 1950 e das décadas subsequentes. Mesmo com todos os desafios que a vida lhe impôs, poliomelite e um acidente de ônibus que lhe deixou sequelas, Frida representou sua identidade e seu povo, deu autenticidade ao povo mexicano valorizando e visibilizando suas origens.

Tudo que se impunha como limite Frida transformou em arte. Seu casamento com Diego Rivera revelou o profundo amor que sentia por ele assim como as contradições de um relacionamento marcado pela infidelidade de ambos os lados. Também precisamos parar de romantizar essa relação. Hora de pensar Frida para além de Rivera. Muito por conta da sua condição física, Frida sofreu três abordos. Ainda que fossem momentos difíceis ela nunca abandonou a ideia de maternidade.

Ela explorou essa vontade em suas litografias provavelmente como subterfúgio para a superação de suas desilusões. Abrigou Leon Trotsky, um dos líderes da Revolução Russa em sua casa. Frida viveu um breve affair com ele.

Morreu com 47 anos, muito jovem.
Acordei com ela porque sua força para projetar a sua própria vida rompeu barreiras e perspectivas. Viveu sua história, fez sua história. Hoje e sempre a saúdo, relembro e me inspiro.

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Hoje eu acordei com Lygia Clark.

Lygia, com certeza, viveu tentando superar em suas obras o limite entre a vida e a arte. Rejeitou ortodoxias e partiu pela jornada da experimentação. Primeiro com a Body Art, depois a arte plurissensorial vivendo entre a psicanálise e as expressões artísticas. Foi orientada por Burle Marx, frequentou o ateliê de Fernand Léger.

Transitou até que seu objetivo de estabelecer uma nova linguagem abstrata na arte brasileira fosse concretizado. Elaborou trabalhos como “Nostalgia do Corpo: Diálogo”, que propõe ao espectador sentir coisas simples, como o sopro da respiração e o contato com uma pedra na palma da mão. Outra grande obra é “A Casa É o Corpo: Labirinto”, que simula um útero a ser penetrado pelo visitante, que é levado a experimentar sensações táteis ao passar por compartimentos. Por último também relembro de “Baba Antropofágica”, no qual várias pessoas derramam, sobre alguém deitado, fios que saem de suas bocas.

Lygia Clark foi promotora da arte brasileira e figura que não deve ser esquecida. Em 2014 também tive o privilégio de encontrar no MoMa, em NY, suas obras e deixei me inundar pelo significado e coragem da exposição.

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Terceirização

Nos jornais de grande circulação nenhuma notícia sobre a notificação enviada pelo Ministro do Supremo Celso de Mello que pede explicações sobre o projeto de lei 4.302 que libera a terceirização nas atividades-fim das empresas.
Desde que Sandro Mabel (PMDB/GO) propôs o projeto (PL4330) em 2004, aprovada parcialmente em abril de 2015, o empresariado vem fazendo pressão para a implementação total da terceirização como forma de reduzir os curtos da força de trabalho, ferindo de morte a CLT.
Ainda que o despacho feito por Celso de Mello pedindo esclarecimentos seja uma ação importante contra a rapidez no processo de aprovação do projeto, não podemos comemorar ou desarticular nossas lutas contra os incisivos ataques contra nosso direitos.

F.S

O desmonte pela mídia do convencimento

Nos últimos meses é de impressionar a grande quantidade de propagandas que o governa usa como artifício de convencimento em torno do tema reformas. É de impressionar também como sua aliada fiel, a Rede Globo, assumiu com altivez utilizando das estratégias da sua grade de programação.

Ontem pela manhã um exemplo interessante para ser mencionado. Ana Maria Braga, no seu programa matutino, usou de sua imagem e de sua capacidade de comunicação para vender a ideia de que a saúde privada é a alternativa contra a saúde pública “precária”. Passou tempo significativo da manhã falando dos cartões recarregáveis para pagar consultas e exames, dos planos de saúde popular e descaracterizando o sistema de saúde pública com as noções de ineficiência e inviabilidade.

A desconstrução do direito à saúde, à educação e à previdência social tem sido o aporte para conduzir a opinião pública ao apoio das reformas.

Nos intervalos do programa Malhação, conhecido por ser a novela dos adolescentes, as propagandas do governo giram em torno das mudanças do ensino médio e a venda da ideia de que o jovem qualificado rapidamente para o mercado de trabalho terá garantia da sua imediata integração. É só recorrermos às mudanças já existentes, àquela morfologia laboral desencadeada depois da flexibilização das leis trabalhistas dos anos 1990, para entender que as coisas não funcionam assim. O trabalho estagiário tem sido uma forma de integrar o jovem universitário em trabalhos sem qualquer garantia legal e por valor bem abaixo da média. Com raras exceções, os estagiários são integrados ao mercado, assumem tarefas de trabalhadores formados e depois são descartados para a roda girar novamente.

sabemos também que os alunos de classe média alta e ricos continuarão tendo acesso a uma grade curricular ampla, garantirão seu acesso nos espaços universitários e se integrarão ao mundo do trabalho quando se sentirem preparados. É na grande parcela de pobre da sociedade brasileira que recairá a tarefa de se formar e integrar um mercado de trabalho legalmente flexibilizado e estruturalmente precarizado tornando o gap de acesso a universidade cada vez maior.

Ao longo da programação a faixa etária vai mudando e agora é a hora do convencimento quanto a reforma da previdência. É um grande xadrez. A vida das pessoas manipuladas como se fossem peças de um grande tabuleiro. Governar e fazer política está restrito a mudar as leis conforme as pressões da grande burguesia interna e do grande capital internacional. O cidadão, aquele que paga imposto e que arca com grande parte do tesouro nacional a cada dia perde o direito de desfrutar daquilo que a Constituição de 1988 garante. A linda frase de que todos tem direito à saúde, educação e moradia passa pela mais aguda desconstrução porque a rapidez com que esse governo desmonta o restante dos direitos do cidadão demonstra para que e para quem o Governo Temer foi pensado. Seus grandes parceiros tem feito o trabalho de convencimento ao mesmo tempo que tornam inaudíveis as vozes de quem grita contra tudo isso.

Qual seria a solução? Essa é a pergunta que muitos fazem. Só pode ser a resistência que precisa ser multifacetada. Já temos diversos canais que lutam diariamente para desmascarar o governo. Muitos críticos, analistas que tem encarado uma verdadeira jornada para discutir os inúmeros aspectos do governo temerário em instituições de ensino, sindicatos e etc. Livros e artigos tem sido publicados. As manifestações de rua e as do campo não podem parar. Precisamos de resistência permanente contra esse governo que pretende e já está entregando o Brasil de bandeja.

F.S.

 

O declinante governo Temer

É possível em poucos meses retroceder anos. Mas não é um retrocesso qualquer. Essa volta ao passado está envolta em objetivos muito bem traçados pelo novo governo. Completar o circuito neoliberal através do aprofundamento de políticas iniciadas na Era Collor.

As reformas políticas em curso tem essa pretensão. Aprofundar as políticas iniciadas na década de 1990 como forma de reagir às pressões nacionais e internacionais. Por isso esse processo passa pela reforma da previdência, pela trabalhista e do sistema educacional. Além disso a diminuição dos investimentos nos programas sociais consagrados nos governos anteriores também é latente. O número de beneficiários no Bolsa Família já tem uma queda bastante acentuada (https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/03/02/mesmo-com-crise-bolsa-familia-reduz-485-mil-beneficiarios-em-3-anos.htm). Fora a diminuição dos investimentos em educação, em especial os vário programas de financiamento estudantil.

É sempre bom lembrar o papel preponderante dos vários grupos econômicos que cercam o poder político no Brasil. Isso demonstra que seu protagonismo histórico tem peso decisivo nas ações tomadas pelo Palácio do Planalto. As pressões e o ativismo das várias bancadas que formam o Congresso Nacional e que defendem seus interesses mais imediatos é força que precisa sempre ser desmascarada para que os mecanismos da política brasileira possa ser visto sem qualquer cortina de fumaça.

Voltamos a debater terceirização, flexibilização e previdência social como respostas à crise nacional e global. Depositasse o ônus dos interesses do capital na conta dos trabalhadores e aposentados do país.

O Jogo jogado nos últimos anos fomentou o rentismo, contribuiu para a desisdustrialização e focou os negócios no setor primário-industrial dando às commodities atribuindo às commodities papel de destaque. Com o sucesso de suas vendas financiou-se os programas de sociais dos governos Lula e Dilma. O avanço do agronegócio e a precarização do trabalho e do trabalhador contribui para a formação atual do nosso cenário econômico. Não é possível concordar com a ideia de um neodesenvolvimentismo partindo desses aspectos. Para as particularidades da economia brasileira as ações dos governos Dilma e Temer aparecem muito mais como restaurador neoliberal. Lembrando que no governo Dilma as demarcações de terras conferiram ao agronegócio a capacidade de ampliar seus negócios, mais do que regulamentar qualquer coisa.

Ainda é um momento de diagnósticos. Nesse sentido é possível compreendermos o que se insere na retomada do neoliberalismo no Brasil. Já estamos presenciando muitos de seus aspectos.

F.S.

O precariado como categoria chave do (neo)liberalismo – uma história

PARTE I – PREMISSAS

É certo que a história do pensamento econômico perpassa análises sobre onde está a capacidade de uma cidade, região ou país produzir riqueza. Desvendar a chave desse até então enigma era o principal compromisso dos estudiosos e das vertentes analíticas que foram fundadas. Gerar riqueza, produzir riqueza faz parte de uma equação societal que vai muito mais além da simples compra, venda e circulação de mercadorias. Na medida em que a sociedade passou da economia feudal para o renascimento comercial, a transição significou considerar que aspectos até então desconhecidos passaram a permear a lógica da economia e explorar seus mecanismos revelaria melhores condições de absorver suas capacidades de gerar lucro.

Expressivos estudiosos dedicaram a vida a entender o funcionamento do sistema do capital. Em todas as épocas existiram aqueles que produziram brilhantes obras que elucidaram partes de uma mecanismo que se tornou cada vez mais complexo e com engrenagens cada vez mais significativas para completar o movimento do capital.

A base fundiária que sustentou o sistema feudal e tantas cidades no período da transição foi a base de instauração de um novo sistema econômico. Com ela vinham também todo um escopo ideológico que influenciavam não apenas o sistema econômico como todos os outros componentes da vida social. A história do pensamento econômico procurou compreender a íntima relação entre a divisão social do trabalho e o desenvolvimento de técnicas agrícolas. Foi necessário retornar aos aspectos que permitiram um reordenamento e cercamento das terras na Inglaterra para compreender os nexos concretos existentes entre a produção têxtil e o desenvolvimento de uma base econômica que culmina na Primeira Revolução Industrial.

Com o tempo as estruturas feudais são lembradas apenas por alguns de seus esquemas que insistem em demorar a desaparecer. Mas o novo modelo de produção e a nova divisão social do trabalho trazem consigo uma nova ideologia que rompe, ao tempo, com o paternalismo cristão e favorece o desenvolvimento do individualismo nas relações sociais dando origem ao que se chamará “espírito da livre concorrência”.

As novas bases de sustentação do sistema capitalista comercial permitirá que novos estudiosos se inclinem em compreender as concreções deste novo sistema econômico por meio de uma nova e profunda ideologia: o liberalismo.

A formação do pensamento mercantilista lança novas bases para o comércio. Tornou-se usual operações financeiras como o câmbio e a liquidação de dívidas e créditos, o uso do papel moeda. Desta forma é necessário se construir garantias políticas e o desenvolvimento de uma legislação comercial tratou de regularizar as atividades comerciais dando legalidade aos contratos, vendas, leilões e tantos outros elementos que surgem e se aperfeiçoam no capitalismo moderno.

A fim de regularizar todas as atividades presentes no interior do sistema mercadores-capitalistas assumem cada vez mais de perto o controle sobre a produção, circulação e venda dos produtos. O comércio e a indústria artesanal, aos pouco, vão sendo substituídas pelo sistema manufatureiro doméstico e o mercador cada vez mais passou a ter domínio da produção sendo dele a propriedade das máquinas e dos galpões de trabalho.

O confronto entre campo e cidade cresceu. Era necessário destruir por completo os elementos que ainda sustentavam o feudalismo em algumas regiões da Europa. Não foi um confronto de exclusão e sim a submissão do campo ao novo sistema econômico, a introdução das relações de mercado no campo. Após muitos embates e guerras as relações de mercado no campo foram se tornando mais frequentes e sua ideologia da liberdade e independência foram essenciais para garantir os novos laços entre campo e cidade ainda que muitos nobres e camponeses tenham resistido. Nessa correlação de forças os camponeses, sem dúvida, foram os que mais saíram prejudicados desse processo pois perderam as garantias feudais de que dispunham e foram despropriados das terras que trabalhavam e moravam. Nesse sentido surgem as bases de miséria (política e econômica) que perpassam a condição do camponês naqueles tempos. Uma vasta força de trabalho despropriada, sem terras e sem instrumentos de produção e com a única coisa que podiam vender para sobreviver: sua força-de-trabalho.

Os grandes beneficiários de tais transformações também se multiplicavam. O renascimento comercial também correspondia ao período das grandes navegações, das grandes conquistas territoriais e das grandes descobertas científicas. As embarcações e a descoberta de ouro e prata das Américas potencializaram ainda mais a capacidade política e econômica dos mercadores-capitalistas. Grandes estoques e lucros que só se multiplicavam. Os donos de volumosas quantias de dinheiro eram consequentemente os donos dos meios de produção, dominavam o comércio e a circulação de mercadorias. Tinham controle do processo produtivo e, portanto, da acumulação do capital. A esse processo Marx chamou de acumulação primitiva do capital. Os princípios básicos dessa acumulação estão presentes no crescente volume do comércio de mercadorias, na produção de manufaturas, no sistema de cercamento dos campos (propriedade privada) e na inflação dos preços. Até o século XVII vigorava esse sistema que ainda vivia tempos de vitalidade.

Entretanto a consolidação das Monarquias Absolutas inauguraram um novo tempo. Cidades dos grandes reinos absolutistas se transformaram em importantes zonas comerciais. Inglaterra, França, Espanha e Países Baixos floresceram e os mercadores capitalistas ali constituíram sua grande força de controle do comércio e das manufaturas. Ainda que o mercantilismo proporcionasse ao monarca absoluto controle dos fluxos de prata e ouro provenientes das Américas e conseguisse com isso controlar a balança comercial, era necessário também estabelecer o controle da entrada e da saída de produtos disciplinando o comércio exterior a fim de proteger o comércio e as indústrias. Nesse sentido a Inglaterra mais uma vez saiu na frente. Seus Atos de Navegação promulgados em 1651 e 1660 promoveu a indústria marítima inglesa e uma série de outros atos políticos procurou regulamentar, restringir e controlar a produção no país.

O mercantilismo inglês validou formas de controle político e econômico assim como manifestou como os princípios cristão ainda vigoravam e definiam o comportamento da classe de mercadores. Foi no reinado de Henrique VIII a mais expressiva mudança em torno desse problema. O rei rompeu com a Igreja Católica Romana que assinalou um processo de secularização das funções desempenhadas pela Igreja Medieval.

Outra atitude de importância na Inglaterra foi a concessão de patentes e monopólio. A Rainha Isabel I foi a primeira a incentivar e promover o desenvolvimento de novas indústrias através da concessão de direitos de monopólio. Com a Dinastia Tudors a Lei dos Pobres foi promulgada a fim de regulamentar a assistência a essa camada social que só crescia na Inglaterra. Quando a matéria-prima lã passou a ser exportada em grandes quantidades as indústrias têxteis da Inglaterra diminuíram drasticamente a produção o que provocou uma avalanche de desemprego. Após inúmeras guerras civis, a Revolução Gloriosa, em 1668, o governo foi submetido ao controle da pequena nobreza (gentry) e da classe média capitalista. Quando Adam Smith, escocês de nascimento, publicou em 1776 o livro A Riqueza das Nações , um grande estudo sobre a nova filosofia individualista, o liberalismo clássico conquistou maior espaço na Inglaterra.

O liberalismo clássico aparece na história como o contraponto mais do que necessário às velhas e ultrapassadas formas medievais. Suas premissas refletiam a novas necessidades do mundo capitalista  e estabelecia profundas críticas às restrições econômicas que obstruíam o desenvolvimento do comércio e da indústria. Criticou os efeitos negativos da moral cristã  para o sistema defendendo a prerrogativa da consciência individual.

O século XVII se tornou tempos de críticas profundas aos termos econômicos considerados pelos liberais como irreconciliáveis e a sobrevivência das restrições significaria um dispêndio de forças e capacidades econômicas. O liberalismo político e econômico procurou suprimir pela crítica radical todos os elementos que obstaculizavam um maior desenvolvimento e transformação do papel da burguesia na economia regional e mundial.

REFERÊNCIAS:

HOBSBAWM, Eric J. Os trabalhadores: estudo sobre a história do operariado. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

HOBSBAWM, Eric J. Mundos do trabalho.: novos estudos sobre a história operária. 3 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

HOBSBAWM, Eric J. A era dos impérios (1875-1914). 11 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

HOBSBAWN, A era do capital (1848-1875). São Paulo: Paz e Terra, 2000.

HUNT E. K. História do pensamento econômico. Rio de Janeiro: Campus, 1989.

SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e causas. Vol 1 e 2. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2008.

MARX, Karl. Contribuição para a crítica da economia política. 2.ed. São Paulo: Expressão Popular, 2008.

Fabiana Scoleso

 

Neoliberalismo e seu papel auto-perpetuador

O neoliberalismo é o anel auto-perpetuador que revela o novo tipo de protagonismo do Estado em relação as chamadas “forças do mercado”. As bases da reestruturação produtiva e do capital estão presentes em Collor e FHC. Esse engajamento Capital-Estado teve como principais conteúdos a organização social da produção, a reengenharia dos princípios políticos e creditícios para a expansão do capital e, fundamentalmente, um novo tipo de captura da subjetividade do trabalho.

O que vemos hoje é a retomada de muitas dessas premissas a partir das propagandeadas reformas. Sob o signo das reformas há, além da intensificação dos seus preceitos, um ajuste de contas com o passado recente incompleto. As reformas previdenciária, trabalhista e a do ensino médio pouco debatidas socialmente, mas rapidamente tratadas, tramadas e votadas pelo Congresso e pelo Senado, provam a urgência em atender as pressões e as demandas do grande capital. Temer é para eles a garantia da implantação destas tarefas. Os obstáculos para isso são quase nulos: no jogo do poder (golpista) as peças certas ocupam as casas certas.

As jogadas irregulares são naturalizadas e a justiça já não mais esconde o tamanho do seu suborno. O partido recentemente golpeado, socialmente escrachado e acusado de todos os males do país já não reúne forças suficientes contra esse circo gigantes. Aliás muitos aderiram a tudo isso e sequer mencionam mais a palavra golpe.
Triunfam as visões conservadoras, colaboracionistas, irracionalistas, social-democratas que ganham visibilidade e publicidade da grande mídia. Os movimentos sociais ganham bandeiras, multiplicam-se, mas perdem centralidade. Alguns lutam por integração nesta sociedade desigual. Outros lutam por efetivas transformações. As militâncias se metamorfosearam. As fraturas sociais são grandes e a recomposição do grande capital abre confronto direto contra os núcleos centrais do mundo social e do trabalho.

Debates sobre as mudanças nas lei de greve demonstram para onde estamos caminhando. Em breve manifestações serão proibidas e devemos lembrar que a Lei Antiterror promulgada por Dilma já demonstrou seu potencial. No país da democracia mascarada, da liberdade cerceada e da miséria generalizada é preciso saber pegar o bonde novamente e evitar que uma tragédia ainda maior possa ferir de morte a nossa capacidade de lutar contra essa nova e mais intensa ofensiva do capital.

Da redação.

Reformas, reformas, reformas

Nos últimos meses a palavra “reforma” tem aparecido com frequência em jornais, telejornais, mídias sociais e discussões acadêmicas. Como em tão pouco tempo o governo anunciou e efetivou através dos seus pares na Câmara dos Deputados e no Senado Federal propostas que dependeriam de um debate amplo e aprofundado com os setores que serão mais atingidos por estas mudanças.

Da maneira como as coisas são processadas em Brasília, principalmente pela grande rapidez, há de se entender que os interesses que estão por trás de alterações tão expressivas pressionam e exigem retorno pelo apoio dado a este governo. Não é de se estranhar que em todas as articulações promovidas no interior do Congresso, as alianças e a consolidação das votações de “urgência” o número de votos obtidos dá margem de segurança para a aprovação no Senado e consequente aprovação presidencial.

Como as três grandes reformar mascaram a que verdadeiramente deveria ocorrer com urgência: a Reforma Política.

Outro ponto a se considerar são as votações que eliminam as punições e aquelas que tornam o “caixa dois” uma atividade legal não passível, portanto, de punições. A indicação de Moreira Franco à vaga de Alexandre de Moraes no Ministério da Justiça, a indicação de Alexandre de Morais ao STF. É um jogo de cartas marcadas, com algumas estratégias, mas nada que surpreenda. Quem sabe as reais intenções deste governo e entende o papel que ele vem cumprindo ao longo dos últimos meses não se surpreende com tais nomeações e atitudes. É de se esperar que um governo que subiu ao poder da forma como subiu precise se proteger e garantir que as investigações da Lava Jato e a crise carcerária espalhada pelo país não resvale em si.

Milhões de reais foram despejados em propaganda. As grandes empresas midiáticas do país, que cumpriram seu papel no golpe, receberam quantias extravagantes para propagandear nos seus principais veículos de comunicação as “maravilhas das reformas”. Você liga a televisão e lá vem a propaganda do Governo Federal sobre a Reforma do Ensino Médio com jovens de todas as etnias com frases de impacto e sorrisos no rosto anunciando os benefícios das mudanças. Ainda tem a coragem de dizer que países como a Inglaterra adotam esse mesmo sistema educacional. Oras! Não somos a Inglaterra! Não dá para fazer esse tipo de comparação a fim de dizer que nos tornaremos iguais. Vivi alguns meses na Inglaterra e fazendo parte do cotidiano da cidade de Londres vi bem a dinâmica de atividades e a estrutura educacional oferecida aos ingleses. Bibliotecas, museus, transporte de qualidade e opções na grade que são pensadas para compor uma lógica de formação.

No Brasil a única lógica é formar para o trabalho. Qualificar adolescentes para adentrar um mercado de trabalho fissurado e precarizado pela flexibilização das leis trabalhistas e pelo assassinato dos direitos sociais. Formar e qualificar jovens para um “primeiro emprego” precário. As propagandas em prol da reforma do ensino médio têm inclusive desmerecido a formação universitária. Várias são as entrevistas onde se propala que é melhor fazer um curso técnico do que uma graduação. O país demorou séculos para permitir que a classe mais pobre adentrasse a esfera universitária e quando essa possibilidade se concretiza o país faz esse retorno brusco para as premissas presentes lá na década de 1990 quando vivíamos a Abertura Comercial e a reestruturação da política e da economia para linha neoliberal.

A reforma previdenciária é outra situação complicada. Estudiosos de todas as linhas vem se confrontando em busca da argumentação jurídica e econômica de tal mudança. Muitos já provaram que a previdência precisa sim ser ajustada, mas que o ônus deste ajuste não precisa ser colocado na conta do trabalhador. E pior. Se o trabalhador brasileiro estiver descontente com o serviço prestado pelo governo ele não tem a opção de migrar para uma previdência privada mais atraente. Estamos presos às decisões do governo. Nós que contribuímos há anos estamos prestes a pagar e não receber. Estamos prestes a pagar e receber bem menos do que foi investido. Estamos prestes a perder aquela garantia que lutamos a vida toda para constituir. Para os nossos deputados, senadores e presidente é fácil mexer em algo que não lhes afeta. As garantias que eles obtém por conta do cargo que ocupam são fantásticas! Além dos altos salários e das verbas de gabinete, carros, passagens aéreas e hospedagem, auxílio moradia, auxílio terno e tantas coisinhas mais a aposentadoria rápida e integral está garantida pela Constituição.

Sobre a reforma trabalhista são muitos os pontos que devem ser observados. Fala-se muito de que as regras que versam sobre esse tema são da década de 1940 e que, portanto, estão ultrapassadas. Se enganam aqueles que pesam assim. Naquele tempo as leis eram formuladas baseadas em perspectivas filosóficas e com base em um Direito que considerava as dimensões da lei. As pessoas envolvidas no processo de formulação, votação e aplicação da Lei eram todos profundos conhecedores das letras. É neste sentido que a Legislação trabalhista sobreviveu por tanto tempo. Hoje qualquer um faz e desfaz leis. Muitos sem qualquer conhecimento de causa e dos impactos que uma mudança pode ocasionar. Tudo em nome das pressões de quem os financia. Nada em nome do povo como o Estado deveria representar.

O mundo do trabalho caminha para uma total flexibilização de suas leis e a consolidação de novas modalidades de trabalho sem qualquer proteção social. Em muitos países como Inglaterra e Japão o trabalho “zero hora” e os temporários são realidade. No Brasil estamos vivendo essa transição e a efetivação de algo bastante semelhante. Carteira de trabalho, FGTS e aposentadoria serão histórias que só alguns poderão contar. O mercado de trabalho proposto terá rebaixamento salarial e pessoas altamente qualificadas exercendo funções não aderentes à sua formação. Trabalharemos para sobreviver. Trabalharemos mais e seremos mais vítimas das doenças associadas ao trabalho. Não haverá mais carreira: aquela história de que teremos uma trajetória de sucesso dentro de uma empresa será para poucos. E todas essas mudanças desembocam, necessariamente, na nossa qualidade de vida, no acesso a cultura e lazer, no acesso ao transporte e à moradia. É um castelo de cartas que vai desmoronando e os culpados disso venderão a imagem de “vítimas do mercado”. O mercado é um ser que ninguém enxerga, um monstro que ceifa a vida das pessoas, mas que não pode ser detido. Por detrás desse monstro incontrolável estão os verdadeiros responsáveis. As grandes empresas e seu aliado mais fiel, o governo.

E quem é aliado do povo? O povo, nas suas múltiplas dimensões, precisa urgentemente se entender como classe. Precisa superar tudo aquilo que a fragmenta. precisa superar suas próprias contradições porque só o povo será capaz de resistir, evitar e mudar esse estado de coisas que está em curso. Mas temos algo importante contra: se as grandes empresas midiáticas formam a opinião pública e a reforma do ensino médio retira as disciplinas com teor crítico-filosófico como seremos capazes de criar as condições de superação da massificação que sofremos diariamente?

Algumas grandes iniciativas estão ai! Movimentos sociais, jovens e adultos que têm destacada participação em comunidades acadêmicas e em seus bairros. Mulheres e homens que tem juntado forças na luta contra todo tipo de opressão. É uma luta dura e muitas vezes desleal. Mas numa sociedade multifacetada e instigada pelo ódio a resistência não é opção, é necessidade.

Da redação.

 

80 anos de Guernica

guernica-pablo-picassoO grande pintor Pablo Picasso, certa vez, afirmou que o quadro por ele pintado não era uma obra de decoração. Guernica tinha um papel muito mais profundo diante do cenário político do qual foi fruto. Era um símbolo e uma resposta contra a guerra e violência. A célebre pintura expressa o bárbaro bombardeio aéreo realizado pela esquadra alemã nazista (Legião Condor) apoiadores de Franco na cidade basca de Guernica na Espanha em 26 de abril de 1937, durante a Guerra Civil Espanhola.

Do ponto de vista da arte, Guernica figura entre as obras cubistas mais conhecidas no mundo. Até o ano de 1981 o quadro pôde ser visto no MoMa (Museu de Arte Moderna de Nova Iorque) quando, a pedido do próprio artista, ele foi devolvido à Espanha. Atualmente ele se encontra exposto no Museu Reina Sofia na cidade de Madri.

O contexto histórico é fundamental para que possamos compreender as imagens retratadas por Picasso. A escolha das cores, o preto e o branco, é uma opção que expressa o drama das inúmeras mortes e da destruição.

Dois símbolos estão em destaque no quadro. O cavalo e o touro compõem os elementos da cultura popular espanhola e a agonia pintada explica a tentativa de destruir esses ideais populares. Um soldado morto no chão e a mãe chorando sua morte, uma casa em chamas e uma mulher em desespero, feridos, desespero. Os componentes do quadro expressam individual e  coletivamente o drama e a derrota de um povo.

Guernica sempre nos lembrará os horrores da guerra e da desumanidade daqueles que só vislumbram o poder.